POMBAGIRA popularizou-se com a expansão da Umbanda e dos demais cultos afro-brasileiros nos anos 1960/1970. Sua força era indiscutível e seu poder foi usufruído por todos os que iam se consultar com ela.
Junto à explosão descontrolada das manifestações de Pombagiras, vieram os males que acompanham tudo o que é poderoso: os abusos em nome das Entidades Espirituais (pedidos de jóias e perfumes caríssimos; de vestes ricas e enfeitadas, de oferendas e mais oferendas caríssimas; de assentamentos luxuosos e ostentativos; de cobrança por trabalhos realizados por elas, mas recebidos em espécie por encarnados etc.).
Pombagira também serviu de desculpa para que algumas pessoas atribuíssem a ela seus comportamentos no campo da sexualidade.
Porém, a verdade é que enquanto Mistério da Criação e instrumento repressor da Lei Maior e da Justiça Divina, Pombagira atua esgotando o íntimo de pessoas e de espíritos vítimas de desequilíbrios emocionais ou conscienciais, pois essa é uma de suas muitas funções na Criação.
Na Umbanda, a Entidade Espiritual Pombagira, que se manifesta incorporada em suas médiuns, está fundamentada num arquétipo desenvolvido a partir da Entidade Bombogira, originária do Culto Angola.
Nos Cultos tradicionais oriundos da Nigéria não havia a Entidade Pombagira ou um Orixá que a fundamentasse. Mas, quando os nigerianos vieram para o Brasil (por volta de 1800), eles aqui se encontraram com outros povos e culturas religiosas e assimilaram a poderosa Bombogira angolana que, muito rapidamente, conquistou o respeito dos adoradores dos Orixás. Com o passar do tempo, Bombogira conquistou um grau análogo ao de Exu e muitos passaram a chamá-la de Exu Feminino ou de mulher de Exu.
Os mentores espirituais informam que as manifestações de Pombagira são anteriores à Umbanda e já aconteciam esporadicamente nas “macumbas” do Rio de Janeiro, como está descrito no livro “As Religiões do Rio”, de João do Rio, livro reeditado em 2006, mas onde não há uma descrição detalhada dos nomes das Entidades, e sim, apenas algumas informações, valiosíssimas, ainda que parciais.
Muitos autores umbandistas atribuíram-lhe o grau de Exu feminino em razão da falta de informações sobre essa Entidade e pelo fato de manifestar-se nas Linhas da Esquerda, ocupadas por Exu e por Exu Mirim. Inclusive, alguns a descreveram como esposa de Exu e mãe de Exu Mirim. Isso aconteceu pela falta de informações sobre as manifestações dessas Entidades, até então desconhecidas, que também nada revelaram sobre seus fundamentos divinos.
Atualmente, Espíritos mensageiros vêm nos informando que as incorporações de Entidades na Umbanda têm fundamento nas divindades-mistérios; então, só temos de agradecer pelo que, finalmente, nos está sendo concedido.
Pai Benedito de Aruanda, o espírito mensageiro que está nos trazendo a fundamentação dos mistérios que se manifestam na Umbanda, cobra-nos um rigoroso respeito pelos umbandistas que semearam a Umbanda, o culto aos Orixás, as linhas de trabalhos espirituais, a forma do culto umbandista e os nomes aportuguesados dos nomes africanos que nos chegaram, trazidos pelos nossos antepassados vindos da áfrica, de toda ela, assim como aos nomes aportuguesados pertencentes ao tronco lingüístico tupi-guarani. (...)
O Mistério Pombagira abriu-se por inteiro na Umbanda e tanto pode ser esse quanto outro nome para identificá-lo porque, enquanto Orixá, seu verdadeiro nome nunca foi revelado na Teogonia Nagô; ele se encontra oculto entre os 200 Orixás desconhecidos, porque a Pombagira não foi humanizada no tempo como foram Exu, Oxalá, Iemanjá e todos os outros Orixás do panteão yorubano, muitos deles desconhecidos pelos umbandistas e por boa parte dos seguidores de outros cultos afros. (...)
Portanto, Pambu Njila para o guardião Bantu semelhante ao Exu Nagô e Pombagira para a guardiã umbandista, Rainha das Encruzilhadas da Vida e Senhora dos Caminhos à esquerda dos Orixás.
Pomba é um pássaro usado no passado como correio, “os pombos correios”. Gira é movimento, caminhada, deslocamento, volta, giro, etc. Portanto, interpretando seu nome genuinamente português, Pombagira significa mensageira dos caminhos à esquerda, trilhados por todos os que se desviaram dos seus originais caminhos evolutivos e que se perderam nos desvios e desvãos da vida.
Num tempo em que as mulheres eram tratadas como inferiores aos homens e eram vítimas de maus tratos dos seus companheiros, eis que uma Entidade feminina baixava e extravasava o “eu interior” feminino reprimido à força e dava vazão à sensualidade e à feminilidade capazes de subjugar até os mais inveterados machistas.
Pombagira construiu um arquétipo forte, poderoso e subjugador do machismo ostentado por Exu e por todos os homens, vaidosos de sua força e poder sobre as mulheres.
Ela construiu o arquétipo da mulher livre das convenções sociais, liberal e liberada, exibicionista e provocante, insinuante e desbocada, sensual e libidinosa, quebrando todas as convenções que ensinavam que todos os espíritos tinham que ser certinhos e incorporarem de forma sisuda, respeitável e aceitável pelas pessoas e por membros de uma sociedade repressora da feminilidade.
Ela mexeu com o imaginário popular e muitos a associaram à mulher da rua. Mas todos se quedaram diante de sua beleza, feminilidade e liberalidade. Sua desenvoltura e seu poder fascinam até os mais introvertidos que, diante dela, se abrem e confessam suas necessidades, seus recalques, suas frustrações, suas mágoas, tristezas e ressentimentos com os do sexo oposto.
E a todos ela ouviu com compreensão e a ninguém negou seus conselhos e sua ajuda num campo que domina como ninguém mais é capaz.
Quem não iria admirar e amar arquétipo tão humano e tão liberalizado de sentimentos reprimidos à custa de muito sofrimento?
POMBAGIRA é isto. É um dos mistérios do nosso Divino Criador que rege sobre a sexualidade feminina. Critiquem-na os que se sentirem ofendidos com seu poderoso charme e poder de fascinação. Amem-na e respeitem-na os que entendem que o arquétipo é liberador da feminilidade tão reprimida na nossa sociedade patriarcal onde a mulher é vista e tida para a cama e a mesa.
A espiritualidade superior que arquitetou a Umbanda sinalizou a todos que não estava fechada para ninguém e que, tal como Cristo havia feito, também acolheria a mulher infiel, mal amada, frustrada e decepcionada com o sexo oposto e não encobriria com uma suposta religiosidade a hipocrisia das pessoas que, “por baixo dos panos”, o que gostam mesmo é de tudo o que a Pombagira representa com seu poderoso arquétipo.
Aos hipócritas e aos falsos puritanos, Pombagira mostra-lhes que, no íntimo, ela é a mulher de seus sonhos... Ou pesadelos, provocando e desmascarando seu falso moralismo, seu pudor e seu constrangimento diante de algo que o assusta e o ameaça em sua posição de dominador.
Mas para azar dele e sorte nossa, a Umbanda tem nas suas Pombagiras ótimas psicólogas que, logo de cara, vão dando o diagnóstico e receitando os procedimentos para a cura das repressões e depressões íntimas.
Um comentário:
realmente. olham através da sua alma.. e te enfiam na cara o que vc tem reprimido no campo sentimental, e outros...
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