sábado, 16 de agosto de 2014

POMBAGIRA- Fonte: O livro “Orixá Pombagira”, de Rubens Saraceni, Madras Editora.


POMBAGIRA popularizou-se com a expansão da Umbanda e dos demais cultos afro-brasileiros nos anos 1960/1970. Sua força era indiscutível e seu poder foi usufruído por todos os que iam se consultar com ela.

Junto à explosão descontrolada das manifestações de Pombagiras, vieram os males que acom­panham tudo o que é poderoso: os abusos em nome das Entidades Espirituais (pedidos de jóias e per­fumes caríssimos; de vestes ricas e enfeitadas, de oferendas e mais oferendas caríssimas; de assenta­men­tos luxuosos e os­tentativos; de cobrança por trabalhos realizados por elas, mas recebidos em espécie por encarnados etc.).

Pombagira também serviu de desculpa para que al­gumas pessoas atribuíssem a ela seus comportamentos no campo da sexualidade.

Porém, a verdade é que en­quanto Mistério da Criação e instrumento repressor da Lei Maior e da Justiça Divina, Pombagira atua esgotando o íntimo de pes­soas e de espíritos vítimas de desequilíbrios emocionais ou conscienciais, pois essa é uma de suas muitas funções na Criação.

Na Umbanda, a Entidade Espiritual Pombagira, que se manifesta incorporada em suas médiuns, está fundamentada num arquétipo desenvolvido a partir da Entidade Bombogira, originária do Culto Angola.

Nos Cultos tradicionais oriundos da Nigéria não havia a Entidade Pombagira ou um Orixá que a fundamentasse. Mas, quando os nigerianos vieram para o Brasil (por volta de 1800), eles aqui se encontraram com outros povos e culturas religiosas e assimilaram a poderosa Bombogira angolana que, muito rapidamente, conquistou o respeito dos adoradores dos Orixás. Com o passar do tempo, Bombogira conquistou um grau análogo ao de Exu e muitos passaram a chamá-la de Exu Feminino ou de mulher de Exu.

Os mentores espirituais informam que as manifestações de Pombagira são anteriores à Umbanda e já aconteciam esporadica­mente nas “macumbas” do Rio de Ja­neiro, como está descrito no livro “As Reli­giões do Rio”, de João do Rio, livro reeditado em 2006, mas onde não há uma descrição detalhada dos nomes das Entidades, e sim, apenas algumas informações, valiosíssi­mas, ainda que parciais.

Muitos autores umbandistas atribuí­ram-lhe o grau de Exu feminino em razão da falta de informações sobre essa Entidade e pelo fato de manifestar-se nas Linhas da Esquerda, ocupadas por Exu e por Exu Mirim. Inclusive, alguns a descreveram como esposa de Exu e mãe de Exu Mirim. Isso aconteceu pela falta de informações sobre as manife­stações dessas Entidades, até então desconhecidas, que também nada revelaram sobre seus fundamentos divinos.

Atualmente, Espíritos mensa­geiros vêm nos informando que as incorporações de Entidades na Umbanda têm fundamento nas divindades-mistérios; então, só temos de agradecer pelo que, finalmente, nos está sendo concedido.

Pai Benedito de Aruanda, o espírito mensageiro que está nos trazendo a fun­damentação dos mistérios que se ma­nifestam na Umbanda, co­bra-nos um ri­goroso respeito pelos um­bandistas que semearam a Umbanda, o culto aos Orixás, as linhas de tra­balhos espirituais, a forma do culto umbandista e os no­mes aportuguesados dos no­mes africanos que nos che­garam, trazidos pe­los nossos antepas­sa­dos vin­dos da áfrica, de toda ela, assim como aos nomes aportuguesados perten­centes ao tronco lingüís­tico tupi-guarani. (...)

O Mistério Pombagira abriu-se por inteiro na Um­banda e tanto pode ser esse quanto outro nome para identificá-lo porque, enquanto Orixá, seu ver­da­deiro nome nunca foi revelado na Teo­gonia Nagô; ele se encontra oculto entre os 200 Orixás desconhecidos, porque a Pom­bagira não foi humanizada no tempo como foram Exu, Oxalá, Iemanjá e todos os outros Orixás do panteão yorubano, muitos deles des­conhecidos pelos um­bandistas e por boa parte dos segui­dores de outros cultos afros. (...)

Portanto, Pambu Njila para o guar­dião Bantu semelhante ao Exu Nagô e Pombagira para a guardiã umbandista, Rainha das Encruzilhadas da Vida e Senhora dos Caminhos à esquerda dos Orixás.

Pomba é um pássaro usado no pas­sado como correio, “os pombos cor­reios”. Gira é movimento, caminhada, deslocamento, volta, giro, etc. Por­tan­to, interpretando seu nome genuina­mente português, Pomba­gi­ra significa mensageira dos caminhos à esquerda, tri­lhados por todos os que se desviaram dos seus originais ca­minhos evolutivos e que se perderam nos desvios e des­vãos da vida.

Num tempo em que as mulheres eram tratadas como inferiores aos homens e eram vítimas de maus tratos dos seus companheiros, eis que uma Entidade feminina baixava e extravasava o “eu interior” feminino reprimido à força e dava vazão à sensualidade e à feminilidade capazes de subjugar até os mais inveterados machistas.

Pombagira construiu um arquétipo forte, poderoso e subjugador do machismo ostentado por Exu e por todos os homens, vaidosos de sua força e poder sobre as mulheres.

Ela construiu o arquétipo da mulher livre das convenções sociais, liberal e liberada, exibicionista e provocante, insinuante e desbocada, sensual e libidinosa, quebrando todas as convenções que ensinavam que todos os espíritos tinham que ser certinhos e incorporarem de forma sisuda, respeitável e aceitável pelas pessoas e por membros de uma sociedade repressora da feminilidade.

Ela mexeu com o imaginário popular e muitos a associaram à mulher da rua. Mas todos se quedaram diante de sua beleza, feminilidade e liberalidade. Sua desenvoltura e seu poder fascinam até os mais introvertidos que, diante dela, se abrem e confessam suas necessidades, seus recalques, suas frustrações, suas mágoas, tristezas e ressentimentos com os do sexo oposto.

E a todos ela ouviu com compreensão e a ninguém negou seus conselhos e sua ajuda num campo que domina como ninguém mais é capaz.

Quem não iria admirar e amar arquétipo tão humano e tão liberalizado de sentimentos reprimidos à custa de muito sofrimento?

POMBAGIRA é isto. É um dos mistérios do nosso Divino Criador que rege sobre a sexualidade feminina. Critiquem-na os que se sentirem ofendidos com seu poderoso charme e poder de fascinação. Amem-na e respeitem-na os que entendem que o arquétipo é liberador da feminilidade tão reprimida na nossa sociedade patriarcal onde a mulher é vista e tida para a cama e a mesa.

A espiritualidade superior que arquitetou a Umbanda sinalizou a todos que não estava fechada para ninguém e que, tal como Cristo havia feito, também acolheria a mulher infiel, mal amada, frustrada e decepcionada com o sexo oposto e não encobriria com uma suposta religiosidade a hipocrisia das pessoas que, “por baixo dos panos”, o que gostam mesmo é de tudo o que a Pombagira representa com seu poderoso arquétipo.

Aos hipócritas e aos falsos puritanos, Pombagira mostra-lhes que, no íntimo, ela é a mulher de seus sonhos... Ou pesadelos, provocando e desmascarando seu falso moralismo, seu pudor e seu constrangimento diante de algo que o assusta e o ameaça em sua posição de dominador.

Mas para azar dele e sorte nossa, a Umbanda tem nas suas Pombagiras ótimas psicólogas que, logo de cara, vão dando o diagnóstico e receitando os procedimentos para a cura das repressões e depressões íntimas.


Um comentário:

Anônimo disse...

realmente. olham através da sua alma.. e te enfiam na cara o que vc tem reprimido no campo sentimental, e outros...