domingo, 10 de julho de 2011

Cabloca Jurema


O sol girou uma vez mais ao redor da Terra e quando os raios da manhã tocaram a sua testa, a cabocla gritou:
- Sou Jurema!
E pulou do galho mais alto da árvore gigante e pareceu voar por entre os pássaros e outros seres alados da floresta; mergulhando no rio profundo, de onde emergiu, nadando com os botos que entendiam o seu canto:

Cabocla
Seu penacho é verde
Seu penacho é verde
É da cor do mar
É a cor da Cabocla Jurema
É a cor da Cabocla Jurema
É a cor da Cabocla Jurema
Jurema.

Cabocla, filha valente de Tupinambá.
Adotada pelo mundo, foi encontrada aos pés do arbusto da planta encantada que lhe deu o nome, e cresceu forte, bonita, com a formosura da noite e a firmeza do dia. Corajosa, a cabocla tornou-se a primeira guerreira mulher da tribo, pois a sua força e agilidade no manejo das armas e na ciência da mata, se tornara uma lenda por todo o continente; onde contadores de estórias, aos pés da fogueira, falavam da índia da pena dourada, que era a própria Mãe Divina encarnada.
Nada causava medo na cabocla, até o dia em que ela encontrou o seu maior adversário: o amor. Jurema se apaixonou por um caboclo chamado Huascar, de uma tribo inimiga chamada Filhos do Sol, e que fora preso numa batalha.
Os dias se passaram e o amor aumentava, pois o pior de amar não é amar sozinho e sim ser amado em retorno, pois exige do amado, uma ação em prol do amor.
Pelo olhar, o caboclo Huascar dizia:

“Oh doce Cabocla meu doce de cambucá minha flor cheirosa de alfazema tem pena deste caboclo o que eu te peço é tão pouco minha linda cabocla Jurema tem pena desse sofredor que o mau destino condenou me liberta dessa algema me tira desse dilema minha linda cabocla Jurema.”

Jurema que aprendera a resistir ao canto do boto, ao veneno da cascavel e da armadeira, já resistira bravamente a centenas de emboscadas e que sentia o cheiro à distância de ciladas, não conseguiu resistir ao amor que fluía do seu peito por aquele guerreiro. Observando o caboclo preso, ela viu nos olhos dele, as mil vidas que eles passaram juntos, viu seus filhos, o amor que os unia além da carne e percebeu que não foi por acaso, que ele fora o único caboclo capturado vivo, e decidiu libertá-lo, mesmo sabendo que seria expulsa da sua tribo.
Na fuga, seu próprio povo a perseguiu, e em meio à chuva de flechas voando na direção do caboclo fugitivo, foi Jurema que caiu, salvando o seu amado e recebendo a ponta da morte que era pra ele, no seu próprio peito.
Conta a lenda, que o caboclo Huascar voltou a Terra do Sol e fundou um império nas montanhas andinas e mandou erguer um templo chamado Matchu Pitchu em homenagem a Jurema, onde, só as mulheres da tribo habitariam e lá aprenderiam a ser guerreiras como a mulher que salvara a sua vida.
E no lugar onde a Jurema caiu, nasceu uma planta robusta e muito resistente que dá flor o ano inteiro, cujo formato exótico e o tom amarelo-alaranjado intenso chamaram atenção de todas as tribos, pois tudo dessa planta poderia ser utilizado, desde as sementes, até as flores e o caule; e porque as flores dessa planta estão sempre viradas para o astro maior; ela ficou conhecida como girassol.

Moça bonita é a Cabocla Jurema,
Ela vem com um girassol,
A coroa dela é como um girassol,
Ela é a luz do amanhecer,
Tem os seus lindos sonhos de arrebó,
A coroa da Jurema é como um girassol,
Como um girassol,
Como um girassol,
Como um girassol.


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